Quando a saudade localiza o sujeito na gente

Onde a saudade localiza o sujeito na gente? 
No coração, na mente, no corpo ou nesse conjunto todo 
que pulsa revirando o baú de adeuses que, talvez, quem sabe, 
quisessem dizer outra coisa? 
Pois insiste em nós essa impregnação na lembrança, 
mas o sentimento ocupa muito mais que a memória.

Por Marla de Queiroz
Onde a saudade localiza o sujeito na gente se os olhares já nem se veem mais e as peles só exalam o perfume da distância? Se o tempo correu enchendo de poeira luas e mais luas deixando sonolentas e opacas as estrelas que brilhavam nas madrugadas incandescentes? Onde fica guardado o sujeito na gente?

Onde a saudade localiza na gente o sujeito inerte, mas animado, não sendo coisa ou algo, mas um ser vivinho, vivente? E um suspiro intenso estendido por dentro, o segredo que o olhar na busca incessante não ocultou? Se as fotos foram apagadas e os bilhetes queimados na fogueira dos livramentos, se até o cartão postal mudou para fechar um ciclo e inaugurar outro momento, onde se escondia esse sujeito? No peito? Na pele? Porque de tudo dele ainda, mesmo que em sonho, reacende a lembrança do beijo, abraço e do jeito. Onde a saudade localizou esse sujeito?

Se a febre que pensávamos medicada arde incessante, embora esporádica, e a noite mal dormida espreita o pesadelo: do riso, do choro, do cheiro, para qual direção foram os ventos que não o levaram por inteiro? Por que a saudade incute na gente esse desmantelo?

Onde a saudade localizou na gente este ser que parecia morto e ressuscitou tão certeiro?

Fonte:
http://www.marladequeiroz.com/

Comentários