Comemorar ou não comemorar o dia das mães nas escolas?

Todos gostamos de ter bons motivos para comemorar 
e celebrar o que é importante na vida, 
e quem há de dizer que mãe não é? 
mas será que essa comemoração deve ser realizada dentro do ambiente da escola?
P/ Martha Zarza

É uma boa pergunta para essa data, e para outras datas comemorativas que celebram determinadas situações sempre regadas a muito consumo e sentimentos instantâneos de aproximação. Entendo que o corre-corre de todo dia nos impede, muitas vezes, de expressarmos nosso carinho por estes que amamos, e ter um dia para prestigiarmos a amada mãe, ou a amada pessoa que nos criou como uma mãe, é super bem vindo e necessário, mas essa é somente a face mais bonita do assunto.

Uma outra face mostra a situação de crianças que não tem a figura da mãe em sua vida, seja porque a mãe é ausente, já morreu, é desconhecida, ou seja lá o que for, mas que denota a inexistência dessa figura para a pessoa, o que certamente a desconcerta de alguma maneira, quando não a entristece profundamente. Todos trazemos o arquétipo* da Grande Mãe em nosso inconsciente, daquela mulher que gera, nutre, protege e consola, por mais que se tente substituir esse arquétipo, ele jamais será desvinculado da essência da maternidade universal. E é natural que a falta dessa figura traga grandes sofrimentos a uma pessoa, principalmente na infância.

Há, também, a mãe que foi abandonada pelo filho, o filho que não a procura nem mesmo nesse dia, ao menos para lhe mandar um abraço frouxo. Embora seja uma dor mais suportável, não deixa de ser menos triste. Mas esse é um outro assunto.

E a mídia não dá folga, é perversa entoando o mantra "#compraquesuamaemerece", e dar-lhe cartão de crédito.

Mas o que questiono é essa comemoração nas escolas, principalmente a Educação Infantil e Fundamental 1, onde esses eventos acontecem com maior frequência. O que me pega a veia, é que muitas das crianças que ali estão não poderão participar por diversas razões. Por exemplo, as vezes a escola cobra por algum tipo de presente e a família da criança não tem condições de pagar, ou a mãe não poderá comparecer por qualquer motivo que pode deixar a criança incomodada, sentindo-se inadequada, principalmente se não tiver uma boa autoestima desenvolvida e uma família que converse e explique carinhosamente o porque de algumas situações avessas na vida. Ainda há quando a criança participa dos preparativos para o evento, e talvez passe dias fazendo a lembrancinha que a escola propôs, junto a seus colegas de classe, e ansiosamente espera chegar o dia de poder entregá-lo, o dia chega, e agora espera ansiosa a chegada da mãe, que não chega. O que chega, inexoravelmente, é o sentimento de frustração, que poderá marcá-la para sempre e desencadear vários comportamentos evitativos e sentimentos de inadequação e abandono. E os adolescentes, certamente, acharão um mico ter que ir a uma festa como essa com os pais.

Sinceramente eu penso que há muito mais prejuízos em se comemorar essas datas nas escolas do que benefícios. A notícia boa é que há escolas que também tem essa linha de pensamento e não celebram essa data em si, mas celebram o encontro entre as famílias e os filhos, no ambiente escolar, de uma maneira muito mais criativa, integrativa e feliz, onde as crianças não precisam sentirem-se incomodadas com os rótulos que a sociedade coloca, e que na maioria das vezes estimula preconceitos e exclui. Um encontro sem presentes comprados mas presentes as pessoas importantes para a criança, de sua família, seja ela composta por que forma for.

Precisamos cuidar melhor da infância de nossas crianças, porque o que acontece aí, não fica aí, poderá acompanhar o adulto a vida inteira.

Veja o exemplo exposto por uma escola de educação infantil, Escola Ateliê Carambola,  no vídeo abaixo.


Nota:
* Algo como um conjunto de imagens primordiais, originadas de uma mesma experiência repetidas por muitas gerações, e que cada pessoa herda de seus ancestrais, são os modelos inatos que servem de matriz para que nossa mente possa se desenvolver. Essa herança, de certa forma, interliga o pensamento de diferentes raças e culturas, mesmo que estejam em pontos opostos no planeta, e predispõe as pessoas a pensarem e agirem da mesma forma que seus ancestrais (inconsciente coletivo).





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